18 de dez. de 2008

A crise para a eleição da Alepa, segundo Parcifal Pontes...

O deputado Parcifal conta em 5 capítulos a "crise" para a eleição da mesa da Alepa. Aqui, os dois primeiros, sendo que os outros 3 ainda serão publicados por ele, e também postados aqui.
Interessantes.



Muito barulho por nada I



A crise que envolveu a recente eleição da Mesa Diretora da Assembléia Legislativa do Pará tem tido muitas versões: aqui vão os fatos.

O anúncio da crise

Minha filha passara no concurso do Ministério Público Federal, que a lotou em Altamira. Eu e Ann viajaríamos à tarde para preparar o apartamento que houvéramos alugado para acomodá-la.
Pela manhã o meu celular chamou. O nome do Deputado Domingos Juvenil, Presidente do Poder Legislativo do Pará, apareceu no visor. Ele narrou-me um telefonema que acabara de receber da Governadora do Estado.
Sua Excelência recusava veementemente a participação do PSDB na 1ª vice-presidência da mesa diretora da Assembléia Legislativa do Pará.
“Ela não aceita o PSDB em lugar algum da mesa”, narrava-me o Deputado Juvenil, “e rompe com o PMDB se isto não for desfeito”, completava o relato.
Sugeri que nos dirigíssemos ao Diário do Pará, onde estava o Deputado Jader Barbalho, Presidente Regional do PMDB.
Na extremidade direita da enorme mesa de madeira de lei da sala de reuniões do Diário do Pará, estava sentado o Deputado Jader Barbalho e seu assessor Antonio José, que me ouviram o relato do telefonema do Deputado Juvenil. A primeira decisão foi vetar a minha viagem para Altamira naquela tarde.
O Deputado Juvenil chegou. Sugeriu procurar o PSDB, explicar a situação, e pedir à agremiação que aceitasse a saída da chapa, o que foi refutado pelo Deputado Jader Barbalho: o PMDB houvera convidado o PSDB para compor a 1ª vice-presidência e não poderia desconvidá-lo em um primeiro soluço vindo do Palácio dos Despachos.

Naquele momento se estabelecia o impasse até então mais grave na aliança que se estabelecera entre o PT e o PMDB, no segundo turno da eleição majoritária dois anos antes. Por ironia eventual, a aliança fora selada naquele mesmo prédio do Diário do Pará.
Fiz uma ligação ao Chefe de Gabinete do Palácio dos Despachos, Claudio Puty. Argumentei que a aliança com o PSDB à mesa era originalmente tática e não extrapolava os limites do Poder Legislativo.
Acrescentei que não havia razões para uma crise na aliança, já esgarçada por motivos outros, pelo fato de o PSDB ter alcançado um posição diretora que não tinha maiores repercussões na administração da pauta legislativa.
O Chefe de Gabinete retrucou que a posição da Governadora estava mantida e que não via razão para adicionar o PSDB na mesa, já que o Deputado Juvenil houvera, com outros partidos, garantido a sua reeleição.
O diálogo era previsível e medido. O intento, todavia, houvera sido alcançado: estabelecer uma correspondência qualificada com o Palácio, no meio da crise, pois se sabia que no momento em que ela vertesse às ruas, aqueles cuja expertise é jogar lenha na fogueira iniciariam o serviço.
Avaliamos que a ameaça de rompimento não seria considerada, pelo fato de não termos receio algum das respectivas conseqüências: o PMDB, e nem um dos seus próceres, conseguira, até agora, algo substantivo na aliança sempre estressada com o PT, por isto, não nos era sacrifício ir para a oposição.
O Deputado Jader Barbalho sugeriu que nos mantivéssemos em vigília, à espera do próximo movimento do Palácio e, dependendo deste, organizaríamos a resistência.
Saímos para almoçar na casa do Deputado Juvenil. Antes de chegarmos ao destino recebi um telefonema. Alguém do outro lado da linha pedia-me para ser recebido: disse aos deputados que eles não teriam a honra de ter-me à mesa e rumei a minha residência onde marcara com o interlocutor.
Em casa, no meu gabinete de trabalho, a conversa com a figura que me ligara começou algo tensa. Observei que não poderíamos fazer o papel do guerreiro alucinado: aquele que, no calor da liça, golpeia para todos os lados e acaba decepando o próprio pescoço.
Amainou-se, ao meio, a conversa. Ao final, estabeleceu-se um pacto: tentar dissolver o impasse para salvaguardar a governabilidade serena que o Palácio houvera tido nos dois anos que se findavam.
Todavia, havia certa imponderabilidade na empreitada: como equacionar uma chapa à mesa sem o PSDB, a vontade da governadora, se o PMDB já o houvera convidado, e não tinha intenção de, unilateralmente, fazer-lhe o distrato?
Enquanto isto, no governo, iniciou-se o movimento que se intensificaria a partir do sábado: montar uma chapa palaciana para a defenestração do PMDB da Presidência do Poder Legislativo.
No final da tarde, chegou uma mensagem da Governadora no celular do Deputado Juvenil: ela não poderia recebê-lo à hora aprazada na ligação da manhã.
Lemos a mensagem como a senha para a nossa arregimentação: precisávamos nos preparar para a contenda.
Recebi uma ligação do Palácio: o Puty convidava-me para um café, no sábado pela manhã.
Participei o encontro ao Deputado Jader Barbalho, que aquiesceu, estabelecendo os limites do diálogo.
Terminei o dia com a sensação de que o rompimento com o PT estava na próxima esquina.



SEGUNDA PARTE

Meu almoço é um ciabata com manteiga e um café com leite médio. Às vezes exagero e peço um pão careca como sobremesa.
O melhor ciabata de Belém está na esquina da Braz de Aguiar com a Dr. Moraes. Foi na calçada da Delicidade que eu o Puty nos sentamos para conversar.
O que já houvéramos concluído foi ratificado pelo Puty: trazer o PSDB para a 1ª vice-presidência levara o núcleo do Governo a intuir que o acordo extrapolara a mesa e alcançara as eleições de 2010.
O Chefe de Gabinete do Palácio cantou-me a chapa de 2010: o ex-governador Simão Jatene para governador, o ex-senador Luis Otávio para vice-governador e Jader Barbalho para Senador.
Pensei com os meus botões: “esta é até uma boa opção que eles nos estão dando”. Não quis verbalizar, contudo, o chiste, para não levar a conversa para a adolescência.
O PT não confia em aliados, mantendo-os a uma distância além da regulamentar, o que não permite a conquista e assevera a ruptura, daí a dificuldade do Governo em consolidar uma base no parlamento, onde se refletem as insatisfações do mau tratamento recebido.
Para o PT, os aliados devem ser mantidos em prateleiras altas. Quando ele necessita de algum, desce-o, e, depois de usá-lo, sobe-o de volta, onde se deve manter empoeirado.
Eu já dissera ao Chefe de Gabinete do Palácio que o PMDB não desejava a ruptura que sempre pairava na relação, mas, se o PT investia nela sempre, a partir dali não mais insistiríamos: estávamos preparados para romper.
Observei que o Governo avaliava equivocadamente o nosso movimento de 2010: arregimentáramos 41 prefeitos e 1 milhão de votos e isto, a priori, nos autorizava a marchar com um candidato próprio em 2010 caso houvesse um rompimento.
O candidato do PMDB ao governo seria o Deputado Jader Barbalho. A campanha de 2010, portanto, teria dois ex-governadores a serem confrontados pela atual governadora: Jader em Jatene.
Após mais algumas doses de diálogos de guerra fria, quando os lados fazem questão de protagonizar munições, mas ressalvam os tiros, aventou-se a hipótese, na esteira de solucionar a crise, de o governo montar uma chapa para a mesa, preservando a candidatura do Presidente Juvenil.
Na Assembléia Legislativa do Pará, a eleição do Presidente da Casa se faz em primeiro lugar, e somente depois disto se elege a mesa, onde estava o impasse.
Despedimo-nos convencidos de que o rompimento da aliança, ainda que fosse uma expectativa, não deveria ser uma oportunidade. As respectivas razões para tal ficaram nas entrelinhas do diálogo. Algumas, em certos momentos, foram negritadas.
O Deputado Jader Barbalho me esperava na enorme mesa do Diário do Pará. Narrei-lhe os detalhes do encontro. Ele ouviu circunspecto: avaliava as missivas que mandara ao Governo por mim, assim como as de lá entregues pelo Puty.
À chegada do Deputado Juvenil, já concluíramos que os dois lados fabricavam munição para uma batalha que ambos desejavam evitar, embora não descartassem travá-la.
Embora tivéssemos vantagem numérica consolidada, o Governo contava com a arregimentação usual para nos impor defecções, todavia, a fragilidade do Palácio dos Despachos, nos fazia acreditar que, por mais que algumas defecções houvesse, elas não seriam suficientes para nos bater.
Iniciou-se no sábado, nos dois lados, a contagem dos votos: nós, com a contingência de aferir as possíveis defecções; o governo, no afã de alcançar número para lançar um candidato que pudesse liquidar o Deputado Juvenil.
Cismamos que o Palácio convocaria o Deputado Martinho Carmona, de nossas próprias fileiras, para ser a ponta de lança do seu ataque ao Deputado Juvenil e que, caso o Deputado Carmona aceitasse a operação, o Palácio teria conquistado uma cabeça de ponte consideravelmente perigosa.
Os celulares disparavam o sino a todo o momento: iniciara a intriga, mãe da discórdia, Prima Donna da barganha.
A governadora, quiçá, começou a verificar que poderia estar caminhando uma trilha onde é assaz complicado saber de que lado está o adversário: a política é também a arte da dissimulação.
Os rumores de uma chapa palaciana ganharam corpo. O governo ensaiava cenários e convocava virtuais candidatos: teve dificuldades para encontrar alguém que fosse consenso, mas continuou a providenciar.
À tarde a Governadora decidiu reabrir o diálogo com o Deputado Juvenil, convidando-o a sua residência: interpretamos o movimento como um índice da dificuldade do Palácio em montar a sua infantaria.
O Deputado Jader Barbalho e eu conversamos longamente com o Deputado Juvenil. Estabelecemos cenários de possíveis enfrentamentos. As conclusões eram sempre de que não havia risco cinemático de derrota.
Sob a certeza de que não faltariam votos para a sua reeleição, o Deputado Juvenil, à boca da noite, deixou o seu apartamento rumo à residência da Governadora.
A conversa foi longa. A Governadora estava ponderada, todavia não cedia aos argumentos do Deputado Juvenil.
Alegou que nos 12 anos em que o PSDB ocupou o Palácio dos Despachos, o PT jamais teve assento à mesa da Assembléia Legislativa, portanto não poderia aceitá-los, agora, na 1ª vice-presidência. Advertiu que o PT, em reunião, também emitira resolução no mesmo sentido.
Ao fim, o Deputado Juvenil saiu da residência governamental com um recuo tático do governo: o PSDB seria aceito na mesa, desde que em outra posição geográfica. A Governadora sugeriu a inversão da chapa, ou seja, o PSDB viria para a 2ª vice-presidência e aquele que a ocupava chegaria à primeira.
Ao ouvirmos o relato do Deputado Juvenil sobre o encontro com Sua Excelência, decidimos que o domingo seria uma espécie de armistício. Eu viajaria para Altamira logo cedo, e retornaria à noite, ficando com a aeronave lá para qualquer emergência de retorno.
Era 01H30M da madrugada de domingo quando cheguei em casa. Ann fitou-me. Seus olhos perguntaram como estava a situação.
Respondi que o impasse persistia, embora o rompimento não mais me parecesse tão perto quanto na sexta-feira, mas, que ela continuasse com as gavetas da Paratur limpas, como eu a advertira antes.

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